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sábado, 25 de agosto de 2012
A história se repete ou Quem é irracional?
1876. Período de escravidão no Brasil. Fazenda Santa Helena. O sol ainda não surgiu e ele já está acordado. Começa mais um dia de trabalho. O calor é forte, a água escassa, mas ele continua a labuta diária.
Hora do almoço. Recebe uma papa mal cheirosa. Come com vontade em qualquer canto, até pelo chão sujo.
De volta ao trabalho. O sol escaldante não dá trégua. Calor, muito calor. O cansaço toma conta do seu corpo, agora já mais fraco. Uma parada para respirar. Ouve-se o barulho do chicote no seu lombo. Mais uma ou duas vezes e começa a sangrar. Logo as moscas chegarão. De volta ao trabalho exaustivo. Longas jornadas ininterruptas. Tudo por um punhado de comida.
A história se repete
Época atual. Cidade do Rio de Janeiro. O sol ainda não surgiu e ele já está acordado. Começa mais um dia de trabalho.
Latas de alumínio, papelão, plástico, vidro. Se tiver sorte poderá achar ferro ou cobre. Todos esses materiais são vendidos e reciclados.
O sol brilha imponente no céu, verão, calor forte. Hora do almoço. É a primeira refeição que entra no seu estômago hoje. Pouca quantidade, fome voraz.
De volta ao trabalho. Ele já andou vários quilômetros. Tem muita coisa para carregar, mas ele ainda vai levar mais. O calor já aumentou muito nessa altura da tarde. O sol parece torrar os seus miolos, a água é escassa.
Uma parada para respirar. Ouve-se o barulho do chicote. Na mesma hora, Tito, o cavalo, com as patas trêmulas de exaustão, continua puxando a charrete carregada de sucata. Trabalhando o dia todo em troca de comida. Ele não reclama, não xinga, não rouba, não mata o seu semelhante. Merece dignidade e respeito.
Quem é irracional?
Autoria de Alessandra Mourão
sábado, 11 de agosto de 2012
Louco
Louco. Todos são
Todo mundo já chamou alguém de louco. Fazemos isso, mas no fundo, sabemos que não são. É uma maneira de dizer que o outro fez algo diferente, fora dos padrões, além do esperado. Geralmente, são coisas ruins. Ruins para a gente, para o louco, talvez não.
Existem pessoas de todos os tipos: sãs, neuróticas, saudáveis, doentes, honestas, desonestas. Essas pessoas não convivem com a gente? Quem disse? Pode ter certeza que estão por aí e nem percebemos.
O louco não tem coerência. Mas algum louco deveria ter? Conversas sem sentido jogadas ao vento. Alguém conversa com sentido nesse mundo? Comecem a reparar nas conversas dos outros ao celular. E até nas suas. E um tal de falar que está num lugar e, na verdade, está em outro; que já vai chegar e ainda falta muito para o destino final; que ficou preso no engarrafamento, contudo, milagrosamente, o trânsito está livre.
Ouvimos por aí as maiores barbaridades, a sociedade já até estipulou que essas tais barbaridades são normais. Ah, então tá.
Ninguém gosta de conversar com um louco, já que ninguém considera a si mesmo como louco e logo não há uma reciprocidade com o tal do louco. Que loucura! A conversa do louco também não bate com a do seu interlocutor. Logo é cada um falando de um assunto diferente. Mas espera aí! Briga de casal não é assim? O que? Não é só quando brigam, não?
Um louco exaspera a verdade. Ele a coloca para fora aos jorros, sem se importar se você quer ouvi-la ou não. Ele não está nem aí, nem aqui e, se bobear, nem lá. Muitas dessas verdades ninguém quer ouvir, algumas estão bem na nossa cara, são até necessárias, mas todos fingem que não as veem.
Todos têm um pouco de louco, um dia de loucura, de sair da rotina, das regras impostas pela sociedade, de fazer diferente pelo menos uma vez. Loucura também pode ser sinônimo de uma coisa maravilhosa. Coisa louca, mas num sentido bom. Aí todo mundo quer. Espertinhos, não!?
No fundo você acaba se perguntando: quem sou eu? quem é você? e quem somos nós? Que papo louco!
Louco. Todos não são.
Autoria de Alessandra Mourão
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