segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A mais bela história

Essa história começou quando meu irmão comprou uma oficina mecânica no final de 2006 e, com ela, vieram 5 gatos que lá moravam. Em janeiro do ano seguinte fui conhecer o local e me apaixonei por uma das gatas, que estava prenha. Três dias depois meu pai saiu de manhã, como todos os dias, levando comida para os felinos da oficina. Na hora do almoço meu irmão retornou, trazendo a comida de volta e dizendo que um dos mecânicos havia jogado todos os gatos fora, só deixando a “barriguda”. Na mesma hora me desesperei – como uma pessoa pode jogar fora seres vivos? Pedi, então, que eles trouxessem a gatinha para ficar com a gente, porém tive que enfrentar uma batalha com minha mãe, que não gostava desses bichinhos e alegava que já tínhamos uma gata.
Foi um dia de choro, descrença, raiva e luta para que a gata viesse morar conosco. À noite, contra todos os argumentos da minha mãe, eles chegaram com a “barriguda”. Ela, muito assustada, entrou debaixo da geladeira e lá ficou. As pessoas ignoram que os animais são seres vivos, sentem dor, fome, medo, sede e também o amor que temos por eles. São criaturinhas de Deus.
Prometi para a minha mãe doar todos os filhotes, e, assim, ela ficou na nossa casa. Quatro dias depois eles nasceram. Um de cada cor. Novamente tive que ouvir as reclamações e pressões da minha mãe - uma hora era o sofá cheio de pelos, outra a sujeira e até que eles pareciam camundongos. Fiz vários panfletos para adoção e distribuí pela cidade. Consegui doar dois para uma pessoa e sofri muito com a dor da mãe procurando seus filhos. Ela, miando de um lado e eu, chorando de outro. Com o coração partido, pensava: “Por que eles não podem ficar? Onde alguns ficam, a gente se aperta e os outros se ajeitam.”
Depois de várias desistências de futuros donos, resolvi assumir o que eu queria desde o começo – ficar com eles. Agora eram cinco gatos em casa – a gata que eu já tinha, a ex-barriguda, que recebeu o nome de Noelle, em homenagem a Sidney Sheldon, já que ela chegou na semana em que ele se foi e seus três filhotes.
Assim fomos vivendo entre as reclamações em casa e o trabalhão que dava e que ainda daria, afinal, só de fêmeas, eram quatro e não queríamos mais filhotes. Em pouco tempo todos já estavam castrados e felizes. Certas vezes até pensava por que essa situação tinha acontecido. Foram tantas lutas, choros, emoções. Se eu não soubesse de nada que havia acontecido na oficina, não teria tantos problemas. Apesar do amor que sentia por eles, enfrentar a minha família todo dia, era difícil, eles tinham o direito de não gostar e eu de gostar.
No dia 31/08/07 Noelle deu uma escapadinha para o nosso quintal. Não deixamos os gatos saírem sem alguém olhando, mas como ela era gata de rua, a deixava um pouco livre nas raras vezes em que acontecia. Começamos a nos assustar quando ela não voltou. Eu já havia ido trabalhar, mas ligava a todo o momento para casa, no intuito de ter notícias. Perguntamos a todos e ninguém sabia de nada. No dia seguinte meu pai falou com um vizinho que não havíamos falado antes e ele disse que alguns garotos estavam procurando uma gata grávida e ele achou uma na casa dele, deu para os meninos e ajudou a levar a caixa até uma favela próxima. Sim, ele havia dado a minha gata. Ele ainda tentou consertar dizendo que não era a mesma da foto, que estava prenha, enquanto Noelle já era castrada. Mas só podia ser ela.
No mesmo dia ele e meu pai foram até a tal favela onde os meninos moravam para tentar localizá-los, mas a avó deles disse que não tinha nenhuma gata lá. Se Noelle tivesse ido embora por conta própria, saberia voltar, com certeza, mas dentro de uma caixa fechada...
Foi aí que começou a minha batalha. Foram cartazes, idas à favela, mensagens pela Internet e nada. No sábado seguinte meus pais conseguiram encontrar os garotos em casa e chegaram com essa boa notícia, só que havia a notícia ruim também, ela tinha entrado num buraco de uma obra da casa vizinha e não saía de lá. Será que estava presa? Ferida? Foram dias de muita agonia. Imaginar a Noelle ser tirada do seu lar seguro e largada numa favela com fome, sede, gente estranha, me atormentava. O que me chamava atenção, também, era que havia nessa história muitas coincidências. Ela nunca ia para o quintal e foi exatamente no dia e na hora em que umas crianças procuravam uma gata. E o vizinho saiu de casa ao mesmo tempo em que as crianças estavam na rua. E por que ela não pulou de volta para minha casa? Por que eles não encontraram os meninos logo no primeiro dia que foram lá? E ainda por cima a avó mentiu. Coincidências não existem, sempre acreditei nisso. O que era tudo isso, então?
Nesse período li alguns livros que nos ensinam que tudo é possível, basta querer. Ouvia as pessoas contando histórias de gatos que tinham voltado para as antigas casas, após uma mudança, mesmo estas sendo bem distantes. Isso me deu muita força para seguir adiante. Munida de escada, ração e muita determinação, voltei até a favela para, eu mesma, olhar dentro do tal buraco. Pulei o muro de uma casa vazia, em obras, numa favela do Rio de Janeiro. Gritei, chamei, fiz barulho com o saco de ração. Olhei, me rastejei, me machuquei e nada. Ela não estava ali. A não ser que estivesse morta lá dentro.
Nunca desisti dela, nem quando um outro vizinho falou: “Não quero te desanimar, mas vai ser difícil ela voltar.” Nem quando recebi um telefonema de alguém que viu o anúncio no poste e me disparei até lá para constatar que não era ela. Ainda bem que a outra gata perdida já fazia amizade com a família. Teria ela um novo lar? Torci para que a resposta fosse positiva. Mas cadê a mãe dos 3 gatinhos que estavam na minha casa? Os dias passavam e parecia que cada vez mais as chances de encontrá-la diminuíam. Quanto tempo um gato fica sem comer? Eram tantos questionamentos.
Comecei a mudar a estratégia. Ao invés de mentalizar com todas as minhas forças que ela voltaria, comecei a agir como se ela já tivesse voltado. Chegava do trabalho com a expectativa de encontrá-la e, quando não a via, não ficava decepcionada, apenas mudava de pensamento imediatamente. Difícil? Tudo é possível para quem acredita.
Nessa época dava aulas de teatro às sextas-feiras pela manhã e tinha 2.30h livres até pegar minha turma de educação infantil à tarde. Aproveitava esse tempo para caminhar na Lagoa Rodrigo de Freitas. Muitas vezes olhava a pista e, como estava totalmente livre, fechava os olhos e seguia imaginando ela em casa, com os filhotes, feliz, me esperando na varanda. Massacrava a minha mente com frases do tipo: “Tudo é possível”, “Podemos conseguir o que queremos”, “Se eu imagino, posso realizar”, “A nossa mente é poderosa, pode fazer coisas que nem imaginamos”, “Acredite!”. E eu acreditava.
O tempo passava e nada. Os meninos falaram que ela havia fugido de lá e não a viram mais. Meu coração apertava, mas eu seguia em frente. Resolvi que não faria nada para comemorar meu aniversário, dia 21/9. Ia ficar quietinha em casa. Nesse ano, a data caía numa sexta, então dei minha aula, caminhei na Lagoa, voltei para a escola, trabalhando a tarde toda. Quando cheguei em casa, à noite, minha mãe me falou: “Olha para trás.” E tal foi minha surpresa ao ver minha gata de volta. “Como?” – perguntei. Para ouvir a explicação de que os meninos conseguiram pegá-la. Foi o meu melhor presente de aniversário. Exatamente 21 dias depois do seu “sequestro”, ela retornava. O que me chamou a atenção foram os 21 dias. Sempre escuto alguma coisa relacionada ao número 21. O que ele tem de tão especial? Eu não sei, mas sei que eu consegui, ela voltou!
Por mais que o mundo inteiro te diga que seu sonho é impossível, que você não vai conseguir, se você quer mesmo, não desista nunca. Nunca! O Universo não para de conspirar a seu favor. Acredite! Eu acreditei!

** No dia 15 de maio de 2018 Noelle, a minha Lourinha, foi para o céu dos gatinhos. Morreu de velhice e seus 3 filhos continuam morando comigo. Te amo, Loura!

2 comentários:

  1. Chorei ao ler a sua história. Em Maio de 2012 minha gatinha que regatei da rua saiu pela garagem e não voltou. Botamos cartazes, alguma ligações bem intecionadas, mas nada. Até hoje, a imagino em cima do meu carro como costumava ficar. Confesso que minhas esperanças estão balançadas, mas sinto em meu coração que ela está bem e acredito nisso! Desejo poder contar a história dela como você fez com a sua bebê. Beijos!

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  2. Gatos são fantásticos! Adoro eles! Tem histórias de donos que se mudaram e o gato foi atrás, encontrando-os, mesmo com a distância e tem histórias de gatos que escolhem seu próprio caminho e se vão. Aconselho à todos que os mantenham em casa, a rua tem muitos perigos. Sei que às vezes é difícil, eles arrumam um jeito, mas eu insisto.
    Quem sabe vc tenha uma boa surpresa? Enquanto ela não volta que tal dar um pouco de esperança para um outro gatinho sem lar? Boa sorte!

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